O Xeque da Direita


O Xeque da Direita
Por Valter Batista de Souza, professor e especialista em Gestão Pública
Publicado no Jornal Diário do Litoral em 27/04/2015

O quadro político brasileiro é bastante complexo. As eleições de 2014 deixaram um rastro de incertezas. O processo que levou à reeleição de Dilma em uma coalisão ampla, embora menor do que em sua primeira vitória, em 2010, tornou-a refém de si mesma. É fato que não se construiu uma contradição na política brasileira. O que vemos, e aí tenho que concordar com muitos colegas, são duas faces de uma mesma moeda, um alinhamento político em torno de um projeto de país que amplia a sua dependência econômica e tecnológica aos interesses do grande mercado. E tenho que admitir que não vivemos um dilema bipolar Esquerda PT versus Direita PSDB, muito pelo contrário. À oposição e à candidatura derrotada no último pleito, restou fazer críticas a um pretenso estelionato eleitoral.
Tem sido esta a tônica da crítica da oposição partidária ao governo Dilma. “Ela mentiu quando disse que não mexeria nos direitos trabalhistas”, “ela mentiu quando disse que não aumentaria impostos ou que não colocaria um banqueiro no controle da política econômica brasileira”. “Nós é que faríamos isso!”, grita a oposição, “Este seria nosso governo!”. E não é errado que esse discurso reverbere, pois é verdade que Dilma mentiu. Isso não me faz admitir ter errado ao escolher sua candidatura, embora preferiria que ela tivesse dito a verdade; ainda é melhor tê-la na condução deste processo a ter que admitir que seu principal opositor era melhor opção. Não era. Tenho convicção disso, como tinha convicção de que Dilma não era a melhor opção. Era o voto útil.
Dito isto, é hora de olharmos para a frente. Não teremos um governo de certezas, mas temos que dar passos para o futuro, sabendo que andamos sobre uma esteira que teima em nos empurrar para trás. O atual Congresso Nacional é um retrocesso em nossa democracia. Temas polêmicos e que deveriam ser guardados em caixas de Pandora, ganharam vida e estão sendo impostos ao país sem resistência. Redução da maioridade penal, conquistas na luta pela cultura da paz e do respeito à diversidade de gênero, gastos públicos e financiamento partidário, a tão falada reforma política, e os tumultuados conflitos na relação capital-trabalho, em torno dos direitos trabalhistas e da estruturação de nosso mercado de trabalho, como esta questão da terceirização das atividades-fim.

O Congresso Nacional parece ter sido eleito com uma carta branca para atropelar o diálogo com a sociedade e aprovar aquilo que é de seu interesse. Não há espaço para o contraditório. Estamos também reféns da fraqueza e da fragilidade em torno da governabilidade que enclausura Dilma e seu Partido dos Trabalhadores. A direita conseguiu dar um xeque na esquerda. A continuar a falácia da corrupção como sendo um mantra na luta das pessoas de bem deste país contra os problemas que temos visto ganharem capas de revista e editoriais de jornais, acumularemos perdas históricas, das quais demoraremos décadas para nos recuperarmos. O que está em jogo não é quem rouba mais, mas quem perderá mais. Pelo que vejo, seremos nós, trabalhadores deste país!

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